Ruído branco é um som que se assemelha a uma cachoeira ou a uma televisão de tubo quando não estava recebendo nenhum tipo de sinal. É um chiado desagradável, mas aparentemente ajuda a bloquear todos os outros sons e tende a ajudar na concentração ou até mesmo no sono.
O novo filme de Noah Baumbach é inspirado no livro homônimo de Don Delillo e reflete sobre o medo da morte.
Podemos pensar que a morte é esse ruído incômodo que está sempre presente e que sobressai todos os outros, e o fato de que nós a conhecemos traz uma angústia sobre a qual muitos filósofos já dissertaram.
A inevitabilidade da morte é a ansiedade de muitos, podendo levar a loucura aqueles que não souberem lidar com o fato de que não há nada que possa ser feito quanto a isso.
O filme de Baumbach me tocou em um lugar muito profundo, pois há alguns anos venho tendo este medo desagradável e amedrontador da morte. Por conta disso, me vi na personagem Baba, interpretada por Greta Gerwig, a mulher que foi consumida pelo medo ao ponto de tentar qualquer coisa para escapar do destino.
Ou melhor, parando para pensar, a pequena pílula branca buscava não o poder da imortalidade, mas sim a cura para essa angústia, que viria a partir de um esquecimento do fato de que se vai morrer. Não à toa, um dos efeitos colaterais do remédio é a amnésia. Mas mesmo essa amnésia não foi capaz de apagar o conhecimento de que a morte um dia vai chegar.
No meio disso tudo, uma grande nuvem tóxica toma conta da cidade, em um momento que nos remete à pandemia de 2020 e de como ela, tão repentinamente, nos colocou de frente a esse medo que sentimos não apenas por nós mesmos, mas também por aqueles que amamos.
Este foi outro ponto levantado logo no começo do filme, quando o casal debate sobre quem deveria morrer primeiro. Isso porque o único medo que chega ao nível de intensidade da morte é o medo de ficarmos sozinhos. O medo de perder as pessoas que amamos. Existe sentido em nossa existência se ela for totalmente solitária?
Sendo assim, o filme reflete sobre como cada pessoa lida com essa grande questão. A reação dos adolescentes é entrar em pânico e buscar o máximo de informação possível, ilustrando a energia e a sede de viver dos mais jovens. A mulher busca a pílula como último recurso em meio a um mar de desesperança. O homem estuda o passado para escapar do futuro, e é muito significativo que ele estude um dos períodos em que mais houve mortes no mundo, pois olhar para a morte de outros é, de certa forma, escapar um pouco da sua própria (questão levantada, inclusive, pelo personagem de Don Cheadle).
Um último elemento intrigante: o ambiente do supermercado. O lugar em que vamos para obter suprimentos para nossa sobrevivência. Talvez represente um lugar de esperança? É possível. Ao final, então, vemos uma grande dança da esperança realizada por pessoas que não se conhecem e não sabem a dor e a história de cada uma, mas que, por alguns minutos, aceitam deixar tudo isso de lado e celebrar a vida.
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