Ambientado nos anos 1990, o novo longa de Pedro Freire apresenta uma história baseada na vida da atriz Malu Rocha, mãe do diretor. Conhecemos e acompanhamos a rotina desta mulher de meia-idade com personalidade forte, interpretada por Yara de Novaes, e as relações com sua mãe (Juliana Carneiro da Cunha) e sua filha (Carol Duarte).
Malu finge não se importar muito com nada ou ninguém, o que parece ser um mecanismo de defesa desenvolvido por ela; mas não demora muito para ficar evidente que essa característica é resultado de muitas mágoas e rancor acumulados. Através das histórias que conta, descobrimos que foi muito machucada no passado, uma juventude vivida durante a ditadura militar no Brasil.
Ainda assim, Malu parece só falar sobre o passado. Por mais que tenha sido doloroso, foi também a época na qual conseguiu viver experiências artísticas no teatro, estar envolvida em companhias, apresentar-se em palcos, estar rodeada de pessoas que compartilhavam da mesma paixão. É com nostalgia, e um tanto de melancolia, que ela relembra de tudo que aconteceu.
A protagonista também vive falando sobre projetos futuros: a reforma que deseja fazer em sua casa, o pequeno teatro e a cafeteria que deseja construir para a comunidade em que vive. Entretanto, aos poucos fica claro que ela não deseja realmente fazer mudanças. Afinal, realizar novos sonhos talvez seja abandonar o passado pelo qual ela tem tanto carinho e não consegue se desprender.
É por este mesmo motivo que, ao ver sua filha sendo corajosa e saindo para conhecer o mundo, Malu acaba sentindo um certo ressentimento, que entra em conflito com o orgulho que sente, na mesma medida, em ter criado uma mulher corajosa e disposta. Não consegue comemorar as conquistas da filha, parece ser doloroso.
O filme brilha em longas sequências que permitem explorar o talento das atrizes, em monólogos ou discussões. Ao sentirmos o tempo real, sem cortes, criamos uma conexão mais profunda com as personagens e nos aproximamos daquela família. Essa proximidade nos faz ter empatia por suas histórias e entender melhor o que fez essas mulheres serem como são. Somos todos, afinal, fruto de tudo que nos aconteceu.
Em meio a relações familiares, conflitos geracionais, críticas à ditadura e à homofobia, o longa acaba enfraquecendo ao tentar unir tantos temas complexos e encaixá-los em diálogos que acabam parecendo ensaiados demais. Ainda assim, esses momentos são sobrepostos pela força do excelente elenco que entrega verdade o tempo inteiro. Após tanto caos, chegamos a um final onde permanece a dúvida, a possibilidade de algo novo. Assim é a vida.
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