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Foto do escritorLuisa Melo Guerrero

As Aventuras de uma Francesa (2024) | Festival do Rio


As Aventuras de uma Francesa (2024)

Hong Sang-soo sempre me leva a diferentes lugares. E não quero dizer fisicamente, apesar de suas histórias se passarem do outro lado do globo. Seus filmes, disfarçados de ordinários, mas que na verdade dão luz a detalhes e momentos bonitos da vida, mostram situações minuciosas, visíveis apenas para aqueles dispostos a enxergar.


Através de longas sequências, o diretor permite que o tempo real aconteça, e que nós sintamos tudo que ele envolve: a graça, o desconforto, os momentos de silêncio, a contemplação e outros sentimentos inesperados que acabam surgindo. Essa possibilidade de experienciar o tempo e descobrir o que isso pode causar no espectador é muito presente na obra do diretor.


Em As Aventuras de uma Francesa, acompanhamos uma mulher que está na Coreia do Sul. Não sabemos nada sobre a protagonista, vivida pela brilhante Isabelle Huppert, nem quais são suas intenções. Na verdade, ela também não parece ter certeza. A personagem evoca as mesmas sensações dos filmes de Hong Sang-soo, como a liberdade e a despreocupação.

As Aventuras de uma Francesa (2024)

Acompanhamos esta francesa que aplica um método de ensinar francês através de frases que tenham um significado profundo para cada pessoa. Para isso, é necessário passar um tempo junto e conversar, fazer perguntas. Quando alguém expressa algo valioso, a mulher anota em um de seus cartões, em francês, e entrega à pessoa.


Com essa abordagem, o diretor traz a reflexão sobre o aspecto único de cada língua. Existem coisas que só podem ser expressas em nossa própria língua, seja ela qual for, e muito se perde em traduções. A proposta da personagem é fazer com que a pessoa compreenda seu sentimento em outro idioma e, por mais que pareça estranho no início, ao ler repetidamente e "sentir" as frases, aquilo será fixado.


Não à toa, o filme caminha por diferentes poemas, escritos em pedras e painéis, cujas palavras serão estranhas às pessoas que não compreendem a língua, mas que podem ser sentidas de alguma forma. No fim das contas, através do inglês e francês falados, e das legendas em português, fui atravessada por frases que tiveram forte impacto por algo muito além das palavras:


"Quem é essa pessoa no meu corpo? Por quanto tempo mais ela vai me cansar?"


"Rejeite a sensação de repetir o que foi decorado."


"Viver sinceramente é não fechar os olhos para o que é falso."


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Publicado durante o Festival do Rio 2024.

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