O mais recente longa do diretor Alexander Payne nos situa em uma cidade congelante e natalina, onde os jingles festivos ecoam e os moradores retiram a neve das calçadas. Logo, somos introduzidos às férias de Paul Hunham (Paul Giamatti), professor rabugento que valoriza a vida acadêmica acima de qualquer coisa, designado a ser o responsável pelos alunos do colégio interno que irão permanecer na instituição durante o recesso de fim de ano. Junto a ele, a cozinheira-chefe Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph), que acabara de perder seu filho na Guerra do Vietnã e não se sente no direito de continuar sua vida, e Angus Tully (Dominic Sessa), negligenciado pela família e o único aluno a não conseguir permissão dos pais para deixar a escola.
Esse trio é uma combinação bastante incomum à primeira vista, mas as relações que desabrocham de aparentes infortúnios fazem com que o destino pareça uma noção possível de se acreditar. Ainda no princípio da história, enquanto Paul recita as palavras do filósofo Cícero: ‘'Non nobis solum nati sumus’’ ou ‘’Não nascemos apenas para nós mesmos’’, ele ainda não faz ideia do que esta irá representar para si mesmo.
Ao juntar cinco escolas diferentes para as filmagens, foi formado o quebra-cabeças que resulta na Academia Barton. A instituição torna-se um quarto personagem principal, frente a importância que simboliza para Paul, Angus e Mary. O local vai muito além de uma escola. Sem ela, o que os resta?
É quase impossível saber tudo sobre uma pessoa, mas é possível afirmar que ninguém é 100% bom ou 100% ruim, e essas nuances do ser humano são exploradas de forma primorosa. Você torce e se decepciona com os personagens, nada é unânime. Paul é uma espécie de Grinch, não se importa com o Natal e leciona de forma rígida, porém, se mostra incrivelmente empático com as pessoas a sua volta e intolerante a injustiças. Enquanto isso, repudiamos as atitudes de Angus na mesma proporção que sentimos pelos motivos que o tornam uma pessoa instável.
As locações, escolhidas a dedo para espelhar os anos 70 com precisão, sem que nada precisasse ser construído, apresenta um papel importantíssimo na construção da veracidade do período. Isto, combinado à trilha, nos transporta para a era retratada. O contraste do verso da canção de Andy Williams ''It's the most wonderful time of the year'' projetando-se do toca disco, contrasta-se com a dor da perda demonstrada por Mary, que, em prantos, relembra a presença de seu filho em sua vida.
Enquanto a saudade permeia de diversas formas, é possível atrelar a sensação de assistir ao filme ao termo nostalgia legislada, de Douglas Coupland, que diz respeito ao sentimento nostálgico por um momento ou situação na qual nunca vivenciamos. Nesse sentido, mesmo quem não presenciou os anos 70, vai se sentir pertencente àquela história. Afinal, um assunto que é brevemente abordado na trama, é o fato de que nenhuma experiência é única, o presente sempre será um passado modificado. O saudosismo aos tempos que já se foram é sempre uma grande ilusão, mesmo porque, como o filme demonstra muito bem, nem sempre recebemos o que queremos, mas o que precisamos.
Os Rejeitados estreia no dia 11 de janeiro e é uma mistura perfeita do bobo e o perspicaz e, se amizades improváveis e ótimos diálogos são a sua praia, essa comédia dramática é pra você.
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