*Contém spoilers

O diretor de Vox Lux (2018) e de alguns episódios da série Entre Estranhos (2023), Brady Corbet, retorna com força na direção e roteiro de O Brutalista (2024), longa-metragem presente nas principais premiações de 2025 e que aborda a trajetória de László Toth, um arquiteto judeu da Hungria, desde a sua chegada aos Estados Unidos, fugindo da Europa após a Segunda Guerra, até o final de sua vida.
Apesar de parecer uma cinebiografia, o filme não é baseado em uma história real. Seu título faz referência ao brutalismo, um movimento arquitetônico cuja ascensão se deu após a Segunda Guerra devido à valorização de materiais baratos, principalmente o concreto. O intuito deste estilo, desenvolvido pelo arquiteto Le Corbusier (1887-1965), era focar na praticidade e simplicidade dos projetos, mas sempre evocando força.
O elemento brutal do filme, entretanto, é muito menos a sua arquitetura do que as relações vividas por este homem. Acompanhamos László Toth (Adrien Brody) e seus primeiros empregos em um novo país, assim como as dificuldades de ser um imigrante. Tudo parece pessimista desde o início quando, mesmo na casa de um familiar conhecido, ele não parece ser bem-vindo, e acaba sendo vítima de acusações injustas.
Sua vida muda quando Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), um rico industrialista, fica muito interessado em seu trabalho e o convida para realizar um projeto monumental em homenagem à sua falecida mãe. Harrison fica ainda mais intrigado quando descobre que Toth estudou na famosa Bauhaus e construiu importantes edifícios em seu país de origem. Ele apresenta e exibe o arquiteto para seus colegas como se fosse um grande achado. A tragédia da vida de Toth torna-se uma atração aos olhos americanos.

Tudo parece estar caminhando para o melhor desfecho, mas algo estranho permeia a atmosfera do filme. Os olhares e cochichos desta família da alta elite parece esconder algo, ainda que por fora pareça um mistério. Com exceção de Harry (Joe Alwyn), filho de Harrison, cuja arrogância e crueldade são indisfarçáveis, todos ajudam e acolhem Toth, e nós acabamos criando esperança e torcendo por este personagem humilde e carismático que, diga-se de passagem, tem muita personalidade e sabe se impor quando necessário.
Se no primeiro ato do filme nós criamos expectativas, na segunda parte, vinda após um intervalo de 15 minutos em tela, tudo nos leva a sentir o oposto disso. Aquilo que parecia ser o melhor a acontecer na vida do protagonista, a chegada de sua esposa Érzsébet (Felicity Jones), é longe de ser o que esperávamos. Logo à primeira vista, é revelado que a mulher está em uma cadeira de rodas, pois teve seu corpo enfraquecido por uma doença advinda da fome que passou na Europa. Para além disso, a relação dos dois é desajustada: parece não encaixar. A lealdade entre os dois existe, mas não parece suprir o desconforto de saber que suas vidas não são mais as mesmas e jamais serão.
Outras complicações como o vício em drogas de Toth, cada vez mais intenso, e a piora da doença de Érzsébet, não nos preparam para a pior das decepções: a revelação das reais intenções por parte de Harrison. Ainda que tivéssemos recebido sinais de um mau presságio sobre o homem, é perturbador descobrir a sua verdadeira personalidade podre e violenta, revelada após um primeiro exagero de álcool.
Infelizmente, os abusos sofridos por Toth apenas ilustram as atrocidades que a elite americana está disposta a fazer para manter-se no topo: humilhar e pisar nas pessoas consideradas insignificante por eles (quase sempre, as minorias, como imigrantes), usando-as por quanto tempo for necessário, enquanto exibem suas máscaras de falsa boa vontade, e descartando-as quando não for mais conveniente.
A direção competente de Brady Corbet acaba se perdendo na segunda parte, onde o filme não parece saber onde quer chegar e muito menos por qual caminho seguir. Mesmo com 3h40 para explorar diferentes assuntos, a obra acaba virando uma confusão por conta do tanto que escolheram para abordar. Ainda que tenha uma decaída lamentável do meio para o fim, O Brutalista é efetivo ao abordar temas atuais como a questão dos imigrantes e a intolerância religiosa, conseguindo trazer à tona a potência dos atores, com menção especial para Brody, Pearce e Jones, e ainda experimentar em sua forma, tão brutal quanto a sua história.
O Brutalista estreia no dia 20 de Fevereiro nos cinemas.
Comentários