top of page
Foto do escritorLaura Tauk

Monster (2023) | Festival do Rio


Monster (2023) Kore-eda

Monster é o filme mais recente do diretor japonês Hirokazu Kore-eda, conhecido pelos longas Ninguém Pode Saber (2004) e Assunto de Família (2018). Um grande contador de histórias familiares que, desta vez, não deixa a temática de lado enquanto ainda traz diversos outros elementos de grande carga emocional à narrativa.


Minato (Kurokawa Soyo) é um pré-adolescente que vive com sua mãe, Saori (Sakura Ando), que o cria sozinha após a morte do marido. O menino começa a apresentar alguns comportamentos que divergem de sua personalidade rotineira e relata ser consequência das atitudes de seu professor, o que motiva sua mãe a ir até a escola investigar.


O Japão, apesar de um país incrivelmente florescente em diversos aspectos, ainda regride frente aos múltiplos tabus causados, não só pelos preconceitos impregnados na sociedade, mas pela cultura da não comunicação, tudo com o intento de não ocasionar transtornos. No longa, tudo começa com uma simples pergunta: ‘’Se um humano tem cérebro de porco, ele é um porco, ou ainda é humano?’’. Uma questão que passa despercebida inicialmente, mas que abre portas sem que público nem mesmo perceba.


Confesso que na primeira hora de filme, não acreditava que a narrativa fosse chegar a um lugar surpreendente. Um desenrolar convencional onde tudo caminhava para a previsibilidade. Até que Kore-eda nos apresenta o porquê desta história.


Em Monster, o público tem o privilégio de ser testemunha das diversas perspectivas de um mesmo acontecimento, algo que pouco acontece na vida real. Toda história tem pelo menos duas versões, mas somos compelidos a escolher uma delas, seja por motivos pessoais ou, simplesmente, racionais. Mas enquanto espectadores, mudamos de opinião múltiplas vezes no decorrer do longa, até percebermos que nem sempre é necessário escolher um lado.


É possível fazer uma alusão ao Mito da Caverna de Platão, pois pode ser que um monstro apenas acredite ser um monstro por não conhecer o que isso realmente significa. Afinal de contas, Minato prefere assumir ser um antes de pensar em questionar a própria sexualidade, pois essa opção nunca foi dada a ele. Yori (Hiiragi Hinata), personagem que vem a apresentar um papel de grande importância mais a frente, reproduz as afirmações maldosas de seu pai por não entendê-las como negativas. Crianças apenas existem com suas particularidades, mas são podadas ao longo do crescimento.


Há muitos monstros no longa de Kore-eda, mas nenhum deles como esperamos que seja. É possível que sequer exista um.

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page