Sete anos após As Boas Maneiras, horror fantástico estrelado por Isabél Zuaa e Marjorie Estiano, Juliana Rojas retorna como roteirista e diretora de um filme poderoso. Cidade; Campo, vencedor do prêmio Júri da Crítica e Melhor Atriz (Fernanda Vianna), no Festival de Gramado, é um filme dividido em duas partes que ilustram a dicotomia de seu título.
Através de diferentes histórias, a diretora fala sobre perda e os fantasmas que nos acompanham. Mas ela também fala sobre esperança, sobre encontrar-se em um novo lugar. Um reencontro consigo, talvez, a partir de mudanças inevitáveis. Em Cidade; Campo, elementos fantásticos colaboram para a criação de uma atmosfera lúdica e fantasmagórica, onde sobreposições e aparições súbitas ilustram sonhos, medos e saudades.
Na primeira parte, Rojas aproveita o cenário da cidade para fazer críticas que já aparecem em seus filmes anteriores, como o trabalho exaustivo para conseguir o mínimo e o discurso corporativo, abordados em Trabalhar Cansa, de 2011. Essa é a parte mais dinâmica do filme, com alívios cômicos e diálogos agradáveis de ouvir. Joana (Fernanda Vianna), personagem forçada a sair do interior devido ao rompimento de uma barragem que inundou sua cidade com lama, encontra a calmaria nas manhãs, quando ainda está escuro, e ela observa a rotina dos vizinhos. A pergunta da criança, "será que eles olham pra gente também?", é uma indagação que provavelmente todos nós já nos fizemos. Será que, em meio a toda essa correria, nós reparamos uns nos outros?
Na segunda parte, o campo, desaceleramos junto às personagens Flávia (Mirella Façanha) e Mara (Bruna Linzmeyer), que também acabaram de chegar da cidade. Um lugar afastado de tudo e todos, onde qualquer mínimo som é audível e, por vezes, assustador. É aqui que teremos contato com forças sobrenaturais, onde a diretora mostra seu domínio do gênero de terror. Entretanto, o intuito aqui não é dar sustos, mas sim representar a força e a beleza extraordinária da natureza, essa entidade que torna-se, também, uma personagem, misteriosa e cheia de segredos.
Rojas encontra espaço para a poesia tanto na selva de concreto, quanto na natureza livre de interferências humanas. O canto e a dança são usados como expressões de sentimentos profundos. Em certo ponto, uma personagem fala sobre a música ser uma fresta para uma realidade paralela, onde temos acesso por alguns minutos. Essa é a sensação que fica após o final do filme: que você participou de outras realidades. Uma experiência hipnotizante que vai reverberar para além da sala de cinema.
Cidade; Campo estreia no dia 29 de agosto.
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