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Foto do escritorLuisa Melo Guerrero

Lamb (2021)


Lamb (2021) é o filme de estreia do diretor islandês Valdimar Jóhannsson, que também assinou o roteiro ao lado de Sjón (O Homem do Norte, Dançando no Escuro). É ambientado em uma área rural da Islândia, onde vive o casal Ingvar (Hilmir Snær Guðnason) e María (Noomi Rapace), que parecem viver uma rotina mecânica e sem grandes propósitos. Isso logo muda quando, certo dia, eles fazem o parto de uma ovelha, e o pequeno cordeiro tem uma característica extraordinária, o suficiente para que marido e esposa voltem a sentir algum tipo de entusiasmo, acolhendo o recém-nascido em sua casa e cuidando dele.


Apesar do longa ter ganhado o Prêmio de Originalidade no Festival de Cannes 2021, não são novas as histórias onde criaturas/animais/seres inanimados tomam o lugar ou são passados por pessoas reais. A boneca no indie “A Garota Ideal” (2017) ou a inteligência artificial no melancólico “Ela” (2013) são alguns exemplos desse tema. Cada um com seu diferente tipo de abordagem, é claro.


Geralmente, se não sempre, esse novo ser (vivo ou não) entra na história para preencher um vazio muito profundo dentro daqueles que o acolheram. Em Lamb, não é diferente. Desde um primeiro momento, nós descobrimos que existiu uma perda entre o casal protagonista. Em uma conversa aparentemente descontraída, Ingvar diz à sua esposa, María, que agora é teoricamente possível viajar no tempo, mas que não tem pressa para o futuro, pois gosta do presente. A mulher responde dizendo que espera ser possível voltar ao passado, expressando certa melancolia, e o homem concorda logo em seguida. Aqui, o diretor coloca uma pista sutil de algo que aconteceu, deixando que o espectador pense por si próprio.


O longa é ambientado em um lugar afastado, monótono e silencioso, características muito bem reforçadas pela fotografia, que usa planos amplos para ressaltar a solidão e o espaço vago que existe ali, não apenas literal, mas emocional também. A fotografia também é eficaz logo no primeiro capítulo do filme, evitando enquadrar marido e esposa juntos, a não ser quando estão cuidando do bebê/filhote pela primeira vez e se sentem unidos em um propósito novamente.

Um dos grandes destaques aqui, além da direção de fotografia bem orquestrada por Eli Arenson, é a atuação de Noomi Rapace (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, Prometheus). A atriz consegue alternar com sutileza entre as diferentes emoções que se passam dentro daquela mulher. Seu olhar tem nuances que vão de um vazio penetrante, passa por uma ternura acolhedora quando olha para seu novo bebê, e chega ao ódio e ao medo em diferentes momentos.


Apesar do objetivo do casal ficar muito claro, o mesmo não acontece com o filme em si. A decisão formal de estruturá-lo em capítulos é um pouco confusa, já que não parece exatamente existir um motivo para isso. O personagem Pétur (Björn Hlynur Haraldsson), irmão de Ingvar, é interessante e traz expansão sobre a vida pessoal e passada do casal, mas acaba não fazendo grande diferença para o todo.


No fim das contas, é um filme que tinha grande potencial, mas deixou muito a desejar. Uma ideia intrigante que acabou não sendo tão explorada. Para um longa de estreia, a direção funciona ao orquestrar os elementos estéticos e extrair o desempenho do elenco, além de optar por dar pistas ao público, sem revelar muito, deixando que cada um faça a sua interpretação. Ainda assim, falta amadurecimento para entrar de maneira mais profunda em uma narrativa e de fato trazer para a tela algo que seja relevante.

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