Tive a oportunidade de assistir A Mulher que Fugiu (2020), um dos filmes mais recentes de Hong Sang-soo, no Festival do Rio, em 2021. Foi o primeiro filme que assisti do diretor, e fiquei encantada. O filme foi aconchegante, como um abraço, e o mesmo aconteceu aqui, em seu novo longa.
Em Encontros, um filme de apenas 65 minutos, o diretor optou por fazer uma divisão de três partes, onde vemos um único personagem percorrer todas eles. O mais interessante nos filmes de Hong Sang-soo — ou, pelo menos, nos que eu assisti — é a representação de um cotidiano em que conseguimos nos conectar com as situações. Apesar de simples e corriqueiras (e por isso não damos muita atenção), são justamente elas que geram uma conexão e identificação. Acredito ser isso que me trouxe a sensação de conforto a qual me referi. Além do clima do filme, um tempo frio, onde todos estão bem agasalhados. O inverno acaba gerando, inevitavelmente, uma maior conexão com o conforto (roupas confortáveis, bebidas quentes, silêncio…).
A questão do clima e das roupas inclusive é drasticamente alterada na última cena, onde o personagem que acompanhamos ousa entrar no mar. Algo que traz um pequeno momento de liberdade e deleite, contrário ao que vimos antes: situações em que ele estava nervoso, triste, tenso ou desconfortável.
Uma cena que me deixou bastante intrigada foi a do reencontro do jovem com sua ex-namorada. O momento na praia faz perceber que anos se passaram, mas logo em seguida parece tudo ter sido um sonho que o menino teve enquanto estava dormindo no carro. A situação é lúdica e sutil, mas se encaixou como uma luva e acrescentou um toque ainda mais intrigante ao filme.
Por fim, é impossível não ressaltar o humor do diretor, que está entranhado exatamente no costumeiro, algo que deixamos passar, mas que, visto de fora, desperta o cômico.
Hong Sang-soo sabe fazer a rotina parecer muito mais agradável, e quem sabe nos inspirar a observar o mundo de forma mais leve e prazerosa.
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