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Foto do escritorLuisa Melo Guerrero

A Substância (2024)

*Contém spoilers

Demi Moore em A Substância (2024)

Em 1950, Billy Wilder refletia sobre a passagem do tempo, o envelhecimento e o descarte de grandes estrelas de cinema em uma das obras mais excelentes já feitas: Crepúsculo dos Deuses. Este tema apareceu depois no clássico O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962) e, apesar de tantas décadas de distância destes filmes, pouca coisa mudou. Na verdade, tudo parece ainda mais frenético e insano; e é a partir desta ideia de insanidade que a diretora francesa Coralie Fargeat decide elaborar seu segundo filme, A Substância.


Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma mulher de meia-idade que tornou-se celebridade por apresentar um programa fitness de televisão. O recorte de época não fica claro, o que faz parte do lado lúdico do filme, mas a proximidade é com a estética dos anos 1980, inclusive o tipo de programa que a protagonista apresenta, muito comum nesta época. Logo no início, Elisabeth descobre que será demitida e substituída por alguém mais jovem, o que chega como um choque. Sem demora, surge uma oportunidade inacreditável: uma substância misteriosa capaz de gerar uma versão melhor de si mesmo.


De forma didática, o filme começa com uma rápida demonstração de laboratório: a duplicação da gema de um ovo — uma pequena prévia do que vamos assistir. Da mesma forma, todas as instruções sobre como operar a Substância e os processos necessários para manter o seu funcionamento são muito simples e intuitivos, ao ponto de parecer um brinquedo infantil. Esses detalhes evocam o sarcasmo que perpassa todo o longa e nos prepara para seu final frenético. Por outro lado, é quando o filme tenta se conter e se explicar demais que acaba enfraquecendo: é nos momentos de ousadia que ele mais se destaca.

Margaret Qualley em A Substância (2024)

"Ela é a minha criação mais bonita." diz o produtor de Elisabeth (no momento, Sue), evocando o imaginário sobre Frankenstein e sua criatura, construída a partir de diferentes fragmentos escolhidos a dedo por seu criador e dominante. Dennis Quaid vive este personagem satírico, construído com auxílio de elementos sonoros enfáticos e câmera desconfortavelmente próxima e distorcida, usados para gerar repulsa no espectador.


A narrativa, assim como a criatura, é dividida em partes: Elisabeth (a essência), Sue (a idealização) e Monstro Elisasue (o resultado final desta grande loucura). Flertando com o extremismo francês ao trazer cenas viscerais, o filme cresce até atingir o grotesco e o surreal que aparecem como crítica à uma sociedade doentia. Com seu final brilhante, o filme declara que a monstruosidade é a única conclusão daquilo tudo.


Em seu novo longa, Fargeat entrega uma obra madura e muito consciente, brilha com qualidade técnica impecável e reflete sobre questões urgentes que parecem cada vez mais aceleradas rumo a algo assustador. Onde vamos parar? A diretora busca responder esta pergunta ao final, em seu momento mais potente e corajoso, onde entrega uma explosão caótica que escancara a insanidade de tudo aquilo que assistimos anteriormente, e que talvez esteja mais próximo de nossa realidade do que gostaríamos de acreditar.



A Substância estreia nos cinemas no dia 19 de setembro.

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