Foi depois de assistir pela terceira vez que percebi. Eu não costumo assistir muitos filmes repetidos, sempre fica aquela sensação de que poderia estar assistindo algum inédito e que preciso assistir. A maior tristeza do cinéfilo é saber que nunca vai conseguir assistir todos os filmes do mundo. É humanamente impossível, simples assim. É tão certo quanto a própria morte.
Mesmo assim, quis assistir Paris, Texas não pela segunda, mas pela terceira vez. E, de alguma forma, eu gostei ainda mais desta vez. A primeira vez de qualquer coisa é sempre sobre você descobrir como funciona aquilo. A segunda vez é quando você já sabe e consegue se deixar levar por outros elementos. Mas a terceira é ainda mais especial. Agora você já tem intimidade e já conhece tudo, então pode prestar atenção nos detalhes que não tinha visto ainda.
O que eu percebi na terceira vez assistindo Paris, Texas foi a presença da cor vermelha. É algo que você já repara na primeira e na segunda vez, mas foi na terceira vez que eu vi a presença dela em quase todos os frames, mesmo que apenas um pequeno detalhe. A interpretação é algo muito pessoal, mas eu interpretei como a presença da personagem Jane. Ela está sempre lá. Sua chegada é iminente. Mãe. Esposa. Amiga. Mulher.
Eu também resolvi, nesta terceira vez, prestar atenção nos diálogos do filme. Percebi que eles fazem parte da simplicidade que esse filme é, em sua totalidade. Não me entenda mal, este está longe de ser um filme banal ou corriqueiro. O que quero dizer é que um de seus principais ingredientes é a simplicidade, no sentido que não precisa de um grande acontecimento para nos impactar de forma dilacerante: ele o faz quando apresenta a cruel realidade.
É um filme real, sobre pessoas reais e acontecimentos reais. Não que seja uma história que aconteceu no mundo não-ficcional, mas são coisas que acontecem, inevitavelmente. O próprio nome do filme é algo que era para ser, mas nunca foi. Acredito que a fala de Travis sobre a ideia que seu pai tinha sobre sua mãe é exatamente o resumo do que é esse filme. As idealizações que criamos, sobre situações e pessoas, mas que são invenções de nossa cabeça. Nós não temos controle sobre nada que é externo a nós. E qualquer tentativa de controlar isso, será em vão.
Esse filme está todo nas sutilezas. Acho que isso é uma das coisas que eu mais gosto. Pequenos gestos, ou mesmo olhares. A passagem do tempo, e as consequências do tempo que passa. Acho que é também muito sobre isso: a cura que o tempo proporciona. No fim das contas, é um filme sobre reparos. É, principalmente, sobre entender e aceitar, ao invés de ficar lutando contra as inevitabilidades.
É por isso que percebi, ao assistir pela terceira vez, que Paris, Texas é um de meus filmes favoritos.
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