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Os Filhos dos Outros (2022)

Foto do escritor: Luisa Melo GuerreroLuisa Melo Guerrero

Virginie Efira em Os Filhos dos Outros (2022)

Ao tentarmos lembrar representações de madrastas no cinema, muito provavelmente as primeiras figuras que virão à mente serão as famosas vilãs da Disney. Fazendo um esforço e saindo do campo da animação, podemos também pensar em um dos papéis mais marcantes do cinema: Glenn Close em Atração Fatal (1987) que, apesar de não ser madrasta, está naquele lugar de "a outra" mulher do pai.


Não é necessário aqui resgatar a problemática de representações de figuras femininas no cinema, um campo vasto de pesquisa para outras ocasiões, mas sim falar sobre a escolha de uma abordagem sensível e olhar atento de Rebecca Zlotowski em seu novo filme, Os Filhos dos Outros (2022). A diretora traz para o centro da narrativa uma personagem que costuma ser coadjuvante, tanto em filmes como na vida real, explorando sentimentos complexos e nos fazendo refletir sobre como deve ser estar neste lugar.


A brilhante Virginie Efira ("Benedetta", 2021) interpreta Rachel, uma professora que nunca desejou ser mãe, mas acaba apegando-se à filha de seu namorado, Ali (Roschdy Zem). Essa relação desperta seu interesse pela maternidade, o que a leva ao médico para investigar se isso ainda seria possível. Em poucos momentos de consulta, o filme consegue transmitir bem o incômodo de certas falas comuns entre ginecologistas, como a constante lembrança de que não resta muito tempo e de que é melhor ter filhos logo. Ou, ainda, a sensação de estar sendo interrogada e cobrada sobre o motivo de ainda não ter concebido, como se fosse a decisão mais fácil do mundo a ser tomada.

Virginie Efira em Os Filhos dos Outros (2022)

Apesar de ser ainda muito jovem, uma mulher por volta de seus quarenta anos é vista pela sociedade como um produto perto de seu prazo de validade, já que a ela é atribuída uma função principal: a de gerar filhos; uma decisão que se torna cada vez mais difícil conforme os anos passam. Isso é algo muito bem colocado por Rachel quando a personagem diz que gosta de ser uma mulher sem filhos mas, ao mesmo tempo, sente-se fora de uma incrível experiência coletiva da qual ela nunca fará parte.


Sendo assim, a diretora traz os conflitos internos e a pressão externa colocados em uma pessoa que, além de precisar moldar-se em padrões, tem que lidar com todas as outras áreas da sua própria vida, como trabalho, relacionamentos e família, todas abordadas no filme com a devida profundidade.


Se em filmes coming of age acompanhamos as incertezas e rebeldia da primeira fase adulta, é em filmes como este que vemos a maturidade necessária, em meio a tantos dilemas, para entender que as coisas fogem de nosso controle e muitas vezes não há ninguém a quem atribuir a culpa, mesmo que pareça injusto.


Zlotowski faz ainda uma ligação muito bonita entre a figura da mãe e da professora. Rachel, apesar de não ter filhos, demonstra preocupação e cuidado com seus alunos, em especial Dylan (Victor Lefebvre), um jovem indeciso sobre o que fazer da vida, como é comum durante a adolescência. Através da protagonista, o filme mostra como ser mãe vai muito além de gerar vida dentro de seu corpo, mas também está presente no afeto e no cuidado de quem escolhe se importar.

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