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Foto do escritorLuisa Melo Guerrero

Bom Dia, Verônica - Crítica da 2ª temporada



Bom dia, Verônica chegou em sua segunda temporada nesta quarta-feira (03) e apresentou um trama intensa, abordando, principalmente, questões de abusos sexuais, psicológicos e de poder. Tudo isso se encontra nas profundezas da máfia que foi descoberta na primeira parte. O roteiro da nova temporada, assim como o da anterior, é de fazer qualquer um passar raiva, aflição e roer todas as unhas enquanto assiste (como foi o caso desta que vos escreve).


A conexão com as personagens é muito natural, mas não só: é intensa. E isso não é por acaso. Assistimos a histórias que nós mesmos vivemos. Talvez não diretamente, mas quem sabe alguém próximo(a) que passou por alguma das situações apresentadas, ou mesmo vimos passar no telejornal. O fato é que Bom Dia, Verônica traz uma história que sim, talvez remeta a séries estadunidenses sobre crime, mas só às vezes. A ambientação, que naturalmente prioriza a cidade de São Paulo, é realista, e o roteiro não utiliza de linguagens ou (muitas) fórmulas importadas, gerando a percepção de que estamos acompanhando algo que poderia estar acontecendo na rua ao lado.


Tudo isso cria um nível de identificação que, unida ao carisma dos atores e atrizes, que entregam interpretações tão cheias de fervor quanto os acontecimentos pavorosos que acompanhamos, faz ser impossível tirar os olhos da tela.

O caso apresentado desta vez aborda diversos tipos de abuso por parte de um líder religioso, vivido com competência por Reynaldo Gianecchini. O personagem usa da linguagem persuasiva de forma tão bem articulada, que fica muito claro como ele conseguiu manipular tantas pessoas, usando sempre o seu discurso de "ser a cura", e aquilo ser algo que ele não escolheu, livrando-se de toda a culpa.


Apesar de não rotular a igreja como sendo de alguma religião específica – ponto positivo da série, já que um ataque poderia tirar o foco do objetivo, que é debater o abuso, seja de quem for – é impossível não lembrar de casos reais que chocaram o país e o mundo, como o do curandeiro João de Deus, responsável por abusar de centenas de mulheres no interior de Goiás, se aproveitando da religião e fé das pessoas para concretizar seus atos violentos.


Além de Gianecchini, a nova família que acompanhamos é também composta por Camila Márdila (Que Horas Ela Volta?, Amor de Mãe), que vive de forma potente a esposa do abusador, repleta de inúmeros medos: por ela mesma, por sua filha, e pelas mulheres que ela sabe o que vão passar. Uma mulher que teve sua inocência arrancada à força e busca algum tipo de conforto no falso discurso do marido, pois já perdeu toda e qualquer esperança.


A filha, por sua vez, interpretada de forma admirável por Klara Castanho (Confissões de uma Garota Excluída, Tudo por um Pop Star), se torna a esperança do espectador, que por um lado torce para que a jovem tome alguma atitude, mas por outro, compreende a sua relutância para fazê-lo. Na série, fica evidente que mãe e filha precisam estar juntas para serem mais fortes, mas essa força não se constrói, já que o pai, de maneira astuta, vive colocando uma contra a outra.

Com muitas camadas, histórias dolorosas e uma trama de tirar o fôlego, Bom dia, Verônica acaba se enfraquecendo em momentos que usa de facilitações do roteiro para avançar, como quando uma personagem entra em um local muito protegido sem nenhuma dificuldade, ou quando um drone está voando baixo, mas ninguém o escuta. Enfim, situações em que sabemos que não seria tão simples. Isso pode acabar interrompendo a experiência do público, que poderá perceber menor veracidade. Contudo, esses momentos não tiram o mérito da série, e muito menos a importância dos assuntos levantados.


Como sabemos, casos de abusos acontecem todos os dias e, diferentemente da obra de ficção, nem sempre temos profissionais que estão dispostos a lutar contra isso. Esta situação é bem retratada através do medo das vítimas, que mesmo sendo centenas, seguem em silêncio. Isso porque, não apenas no Brasil, mas no mundo, quando um homem fala, é a verdade. Quando uma mulher fala, é um talvez.


Que essa obra, assim como tantas outras, ajudem a refletir sobre a luta de todas as mulheres, e nos lembrar de que juntas somos mais fortes.

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